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Foto do escritorLuiz Fernando Arêas

TEMPO DE AFASTAR-SE DE ABRAÇAR

Bom dia.




Esse texto foi escrito no contexto da pandemia.


"O mundo está mudando". Essa é a frase de abertura de um dos melhores filmes já feitos, "O Senhor dos Anéis", baseado nos livros de J. R.R. Tolkien.


Como na Terra-Média de "O Senhor dos Anéis", nossos dias têm sido singulares, apocalípticos. Nunca pensei que a ponderação do autor de Eclesiastes se tornaria algo tão pertinente:

"[Há] tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar."

(Eclesiastes 3.5)


O coronavírus mudou nossa forma de viver. Em agosto de 2022 ultrapassamos a triste marca de 682 mil mortos no país. Muitos foram vacinados, mas a doença ainda devora suas vítimas. São Paulo desobrigou o uso da máscara em lugares públicos. Não tenho pressa em tirar minha.


Para um povo tão afetivo quanto o brasileiro, não poder apertar a mão, abraçar ou beijar, é doloroso. A igreja é o lugar onde muitos recebem o único abraço da semana e também precisa se conter. Agora o carinho deve ser manifestado através da atenção, das palavras e do olhar, mesmo à distância, pois o encontro virtual também é real.


A crise faz emergir não apenas o pior, mas, em alguns casos, o melhor do ser humano. No início de 2020, Reino Unido deu um belo exemplo, onde o governo emitiu um anúncio solicitando 250 mil voluntários para ajudar na área de saúde. Em pouco tempo, o número foi ultrapassado.


A História conta que durante as guerras, o desenvolvimento tecnológico das nações teve um salto qualitativo. Várias empresas farmacêuticas desenvolveram vacinas contra o covid19 em meses, o que normalmente levaria anos para consegui-lo. Muitas pessoas também passaram e estão passando por esse processo de melhoramento, adaptação, reinvenção e aprendizado sob pressão.


Assim como nós, brasileiros, aprendemos a usar o cinto de segurança "na marra", tomara que deixemos de ser reativos históricos, deixando tudo sempre para a última hora, e aprendamos a ser profiláticos, higiênicos, enfim, melhores cidadãos. Emergiremos da crise mais solidários, se Deus quiser.


O texto de Eclesiastes afirma que há tempo para tudo, e isso inclui esse tempo de mudanças, propício para repensar prioridades, rever valores, refletir nas atitudes que temos tido com o tempo, a saúde, o próximo e com Deus.


Sobretudo, é tempo oportuno para buscar o Senhor, pois negligenciar o Altíssimo é a causa de todos os desassossegos da alma:

Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim.

(Eclesiastes 3.11)


Essa "eternidade" no coração humano só pode ser saciada por Aquele que é Eterno.


Tu nos despertaste para o prazer de te louvar, pois nos criaste para ti, e o nosso coração não tem sossego enquanto não repousar em ti.

Agostinho, 354-430


Deus controla o tempo e todos os acontecimentos. Daniel viu numa visão alguém semelhante a um "filho do homem" receber autoridade, honra e soberania das mãos daquele que está assentado no trono celestial (Dn 7.13). O Novo Testamento nos mostra claramente que este é Jesus, que tem o livro da História em suas mãos (Apocalipse 5, Mateus 28.18, Filipenses 2.9-11).


Com ele podemos atravessar essa crise e todas as outras que se apresentarem:


E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos.

(Mateus 28.20)


Jesus sabe o que é abraçar. Aprendi no Seminário Teológico Servo de Cristo que somos seres relacionais porque Deus é um ser relacional, pois, desde a eternidade, a Trindade vivia num eterno abraço de amor.


Jesus sabe o que é deixar de abraçar. Afinal de contas, por nossa causa, na cruz, Ele foi abandonado pelo Pai, perdendo momentaneamente acesso a esse abraço, Essa foi a pior dor que Jesus enfrentou. É impossível imaginar o tamanho dela.



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